Vida aos quadrados

Numa tarde de abril de 2023, deambulava pelas ruas de Barcelona quando me deparei com as portas do Centre de Cultura Contemporània de Barcelona. Como não podia deixar de ser, entrei, adquiri o meu bilhete e lancei-me à aventura. Entre as várias exposições, houve uma que me marcou de forma particular – tão particular que frequentemente penso nela; refiro-me à Constelación gráfica. 

Sobre a exposição, diz-nos o CCCB:

«Constelación gráfica» presenta las historietas y la diversidad de lenguajes, de registros estéticos y de referentes culturales de estas nueve creadoras que, a través del uso del color, el grafismo o la experimentación estilística y narrativa, han puesto en cuestión formas canónicas del cómic. En su obra, estas autoras tratan, con mirada crítica y humor, temas de la realidad milenial como la precariedad económica y laboral, la desaparición de la estabilidad, la relación con la tecnología, la sororidad o las relaciones en Internet. La exposición invita, asimismo, a conocer cómo una red de ferias de autoedición, pequeñas editoriales e imprentas han hecho posible la consolidación de una escena alternativa en la que se mueven y forman estas nueve artistas. Y pone de manifiesto cómo el cómic puede traspasar el papel y tener vida en otros soportes artísticos como la cerámica, los tapices y las animaciones.

Imagem promocional da exposição, encontrada no site do CCCB.

Apesar de pertencer a uma geração distinta daquela que é a das artistas em exposição – Bárbara Alca, Marta Cartu, Genie Espinosa, Ana Galvañ, Nadia Hafid, Conxita Herrero, María Medem, Miriampersand e Roberta Vázquez -, agora que já tenho um pé na vida adulta, começo a perceber melhor a sua obra. É quase como se o meu próprio quotidiano, por vezes, se transformasse numa das suas folhas de banda desenhada. Desde a relação com as redes sociais – estarei a partilhar muito da minha vida , tornando-me um “outra vez?” na opinião das outras pessoas, ou não estou a partilhar o suficiente e, portanto, sou irrelevante nesta geração ligada à tomada – até à questão da independência, seja ela económica, social, etc. – deveria, já, ter casa própria, uma relação estável e duradoura, ou é normal ainda estar a descobrir que mestrado quero fazer e não estar minimamente preocupada com o bicho papão, também denominado relógio biológico?

Sejam quais forem as respostas a todas estas questões – partindo do princípio de que elas existem -, ver esta exposição ajudou-me a metamorfosear a minha própria perspetiva. Pude compreender que talvez não exista um só caminho a seguir e, sobretudo, que não sou a única a navegar com uma humilde jangada neste mar que é a vida adulta. Ver a obra destas mulheres fez-me perceber posso ter dúvidas, posso voltar atrás, posso ter medo e, mesmo assim, chegar aonde quero e ser feliz. E isto, para mim, é, também, o feminismo. 

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