Amor e natureza em harmonia: o Parque Güell

Barcelona é uma cidade de paixões muitas vezes considerada pela sua arte, pela vida ou pelo mar. No entanto, talvez nenhum lugar expresse o amor de forma tão profunda, silenciosa e sensorial quanto o Parque Güell. Criado pelo arquiteto Antoni Gaudí no início do século XX, este espaço vai muito além de um parque urbano ou de uma excentricidade modernista: é uma declaração arquitetónica de amor em todas as suas formas.

Gaudí, fiel à sua visão orgânica da arquitetura, projetou o Parque Güell como uma extensão da colina onde está situado. Nada ali é arbitrário ou imposto. As formas curvas seguem os contornos da paisagem, as colunas lembram troncos de árvores e os caminhos se entrelaçam como raízes. Na minha opinião é um amor que não quer dominar, mas sim coexistir, como um relacionamento respeitoso e já de longa data com o planeta.

Em vez de cimento e linhas retas, Gaudí oferece pedra natural, cerâmica colorida e estruturas que seguem «o fluir da natureza» por assim dizer. O resultado da visão de Gaudí é um parque que parece ter sido cultivado na terra, não construído, mas germinado e crescido ao longo do tempo.

Embora o Parque Güell não seja um espaço religioso, reflete de certa forma uma espiritualidade notável. Gaudí era um católico devoto que integrava símbolos cristãos e formas inspiradas pela religião em quase todas as suas obras. No parque, essa devoção ganha uma forma mais contemplativa que a meu ver é quase mística.

A cruz que está no ponto mais alto do parque, o cuidado com a luz e sombra entre as colunas, e a serenidade remetem para uma experiência sensorial que é quase espiritual. Este parque representa o amor como fé, como uma espécie de ligação com o divino através da beleza e da criação.

Curiosamente, o projeto original do Parque Güell foi um fracasso comercial. Eu lembro-me de que era inicialmente uma urbanização privada de luxo que nunca se concretizou. No entanto, ao ser transformado em um parque público, o espaço revelou a sua verdadeira vocação (que eu acredito que possa ser visto como um presente do arquiteto para a cidade.)

Cada detalhe, desde os bancos ergonómicos até os miradouros incríveis que captam as paisagens enormes, foram desenhados para o prazer do público que o visita. O Parque Güell acolhe, protege e alegra os turistas. É um lugar onde arte e bem-estar se fundem. Eu acredito que Gaudí antecipa uma ideia muito moderna de que a arquitetura é ato de cuidado social, como expressão de amor pelo outro e pelo cidadão comum.

De outra perspetiva eu penso que o Parque Güell possa ser uma espécie de carta de amor à própria arte. O uso do trencadís (um tipo de mosaico feito de cerâmica reciclada) simboliza uma estética imperfeita e reaproveitada. Eu pergunto-me: que outro gesto possa ser mais amoroso do que transformar um fragmento (inicialmente visto sem valor) em beleza?

Mais de cem anos após a construção, o Parque Güell continua a encantar. Em um mundo onde a arquitetura muitas vezes serve ao lucro, Gaudí lembra-nos que construir pode um gesto amoroso.

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