Quando abordamos o tema da mulher, muitos de nós, mesmo que involuntariamente, pensamos no rosto, na corpo, nas curvas, enfim, no físico. Isso não parte muitas vezes de uma iniciativa maliciosa, mas sim de um reflexo da própria sociedade.

Pintura de um corpo de uma mulher, por Laib H, em 2022.
Escolhi esta imagem para uma primeira abordagem para refletir sobre o que abordei no início. Na imagem, a mulher é apenas representada por traços, por linhas que definem os limites do seu corpo. A cara também não está representada o que mostra que o autor, bem como eu, partilha da perspectiva de que a mulher aos olhos de uma grande multidão apenas tem valor quando o seu corpo é posto em exposição.
Constantemente, nós mulheres, somos alvos de comentários sexistas, sexualizados apenas por possuirmos curvas, mamas e rabo. Muitas vezes isso acontece por parte de estranhos, porém muitas vezes, pessoas próximas a nós, alvejam-nos com comentários de tom sexista, machista ou até sexualizado, achando que é «para nosso bem». Grandes exemplos são: «Essa roupa não é muito curta?»; «Vais chamar a atenção vestida assim» e até «Despois não te admires se fores assediada»
Tudo isso (comicamente até) me faz refletir sobre a ironia da sociedade para com a sensualidade das mulheres.
Digo, a sociedade (maioritariamente masculina) escreve, dita e pinta a mulher de forma sexualizada, baseada em desejos próprios ou em ideais já estabelecidos, porém, o que acontece quando a própria mulher usa da sua sensualidade ou não para mostrar quem ela é, para se soltar ou para se encontrar?
Pois é, aí entra a parte irónica já que, quando isso acontece, a sociedade condena, prega e degrada as mulheres, através de olhares, gestos e os famosos comentários do tipo «Prostituta», «Rodada», «Sem pai». Outro quesito onde se mostra o valor que a sociedade atribui às mulheres é na própria linguagem chula usada, os famosos palavrões, onde se repara que a maioria usa de palavras femininas ou que insultam o público feminino diretamente, para assim ofenderam o sujeito que pretendem.
No entanto, nem tudo está perdido, já que, mediante a evolução feminina desde o século passado, as mulheres vêm cada vez mais a mostrar-se mais confiantes e abertas sobre a sua sensualidade e sexualidade, não se prendendo a comentários ou expectativas do público masculino.
Cada vez mais, vemos surgir novas várias artistas que falam sobre esse tema em músicas, que desenham e pintam os seus corpos de maneira real e sem fim de ser sexualizada, para poderem passar a mensagem de que o corpo feminino não é apenas um objeto, mas também na escrita, com cada vez mais obras manifestantes do feminismo a surgir.
O exemplo que decidi trazer hoje vem de um artista homem, o que pode soar um pouco irónico dado tudo o que escrevi até agora. Porém, essa é a exata razão da minha escolha; acho interessante mostrar a perspectiva de um homem que desafia os próprios estereótipos e que desafia a sociedade com letras bastante provocadoras e objetivas.
Falo do cantor Porto-Riquenho, Benito Ocasio, mais conhecido pelo seu nome artístico Bad Bunny.

Bad Bunny é geralmente associado com letras que referem sobre o corpo e sobre o desejo sexual com uma ou várias mulheres, disso não há dúvida, porém, o que muitos não reparam é que, muitas vezes, a suas músicas abordam uma mensagem muito mais feminista e progressitas do que possamos pensar.
Um exemplo disso é a música «Yo Perreo Sola»

«YHLQMDLG«, albúm de 2020
Na música, Bad Bunny toma a iniciativa de se colocar no lugar de uma mulher que frequenta bares, discotecas, uma mulher que «Perrea».
Por aí, quando de primeira ouvi a música, achei que fosse vir uma letra super sexualizada e que em nada condiz com uma mulher. No entanto, fui surpreendida, pois ele aborda o sentimento de querer dançar, querer se divertir de forma livre, em paz e sem nenhuma intervenção de homens (que é algo que acontece frequentemente). Isso é visto em versos como: «Antes você me ignorava (você me ignorava)
Antes tú me pichaba’ (tú me pichaba’)
Agora eu ignoro
Ahora yo picheo
Agora eu ignoro
Ahora yo picheo
Antes você não queria (não queria)
Antes tú no quería’ (no quería’)
Agora eu ignoro
Ahora yo picheo
Antes você não queria (não queria)
Antes tú no quería’ (no quería’)
Agora eu não quero
Ahora yo no quiero (no)»
E também:
«Eu rebolo sozinha (hmm, ei)Yo perreo sola (hmm, ey)»
No videoclipe ele também se veste de mulher, não como uma brincadeira, mas para exemplificar melhor a mensagem de que as mulheres não deviam ser julgadas por querer fazer coisas que os homens fazem livremente
E o que mais me chocou quando refleti melhor é que, ao ser um homem a fazer, muitos aplaudiram e elogiaram-no por «trazer notoriedade» ao assunto, porém se fosse uma mulher própria a tratar desse tema, talvez obtivesse uma resposta mais agressiva e degradante.
Para concluir, por um lado fico feliz que grande parte da sociedade esteja a começar a dar valor e a perceber o valor da mulher e das suas escolhas, porém por outro, fico triste em saber que